sexta-feira, 30 de maio de 2008

A Necessidade do Próximo

Nós só sentimos agrado para com os semelhantes - ou seja pelas imagens de nós próprios - quando sentimos comprazimento conosco. E quanto mais estamos contentes conosco, mais detestamos o que nos é estranho: a aversão pelo que nos é estranho está na proporção da estima que temos por nós. É em consequência dessa aversão que nós destruímos tudo o que é estranho, ao qual assim mostramos o nosso distanciamento.
Mas o menosprezo por nós próprios pode levar-nos a uma compaixão geral para com a humanidade e pode ser utilizado, intencionalmente, para uma aproximação com os demais.
Temos necessidade do próximo para nos esquecermos de nós mesmos: o que leva à sociabilidade com muita gente.
Somos dados a supor que também os outros têm desgosto com o que são; quando isto se verifica, então receberemos uma grande alegria: afinal, estamos na mesma situação.
E, tal qual nos vemos forçados a suportar-nos, apesar do desgosto que temos com aquilo que somos, assim nos habituamos a suportar os nossos semelhantes.
Assim, nós deixamos de desprezar os outros; a aversão para com eles diminui, e dá-se a reaproximação.
Eis porque, em virtude da doutrina do pecado e da condenação universal, o homem se aproxima de si mesmo. E até aqueles que detêm efectivamente o poder são de considerar, agora como dantes, sob este mesmo aspecto: é que, «no fundo, são uns pobres homens».

Friedrich Nietzsche, in 'A Vontade de Poder'

Um comentário:

Cristiana Fonseca disse...

aQue maravilha ao encotrar este texto, ao ler me remeti imediantamente A “Vontade de Poder” na obra de Wagner. "O homem novo , que não tem má consciência , mas que cria a própria norma com valor e decisão, sem se sujeitar ou aceitar as regras preestabelecidas"(Ramón Bau)
Me atrai muito esta fisofia que envolve a quebra de uma moral estabelecida e a criação de novos valores, nossa ficaria por horas
a fio aqui a descutir este tema.
Adoreiiiii
Beijos,
Cris