sábado, 20 de dezembro de 2014

O Apedeuta

Vejo em comentários internet afora pessoas achando o Bolsonaro, Gentilli (esse é o caso mais escroto,depois do Bolsonazi. Um cara que lança um livro com o título: Como Se Tornar o Pior Aluno da Escola,fala serio né galera), Sherazade, Lobão entre outros imbecis o máximo. Cada um tem o ícone que merece. Aplaudem como focas adestradas,por exemplo, a redução da idade penal. Chamam feministas de feminazis. Não entendem o que são os direitos humanos. Clamam pela pena de morte. As vzs não se têm certeza de que século estamos a viver. Desembainhar a espada e montar seu cavalo. A idade das trevas parece não ter fim. Vcs deveriam ler mais. Muuuuito mais. Ouvir aqueles que concordam com vcs e aqueles que não concordam. Vcs sabem o que é alteridade? Pois bem,em Filosofia: Circunstância, condição ou característica que se desenvolve por relações de diferença, de contraste.Tem "indiota" que tira sarro de cientistas sociais, psicólogos, jornalistas, historiadores, etc. "Tudo comunista!" Vcs são apenas papagaios reproduzindo sofismas e comprovando a tese de que a educação no Brasil é falida, que gente com diploma de ensino superior (que sejamos modestos de superior não tem nada) sofre com a interpretação de textos. São os famigerados analfabetos funcionais. Mas eu arrisco q o analfabetismo de vcs vai ainda mais longe. Analfabeto emocional, político, social e oq mais se possam encaixar ai. Afinal de contas a ignorância reina nesse mundinho da piada meritocracia. Falta de conhecimento, preguiça inflexível para o pensamento critico (ate pq isso é sabotado nas escolas), procrastinação para o discernimento. Estudar? Pra que? Sejamos francos, muita gente que eu conheço se formou colando,graduou se à custa de trabalhos q deveriam ser feitos em grupo, mas que os outros fazem pq o SEU individualismo e o SEU “foda se” não lhe permite pensar no bem comum, foram o curso inteiro empurrando com a barriga (conquistada com cervejas em bares próximos a faculdade). Estavam atrás de um papel que os diferenciasse da maioria pobre, classificados como incultos, sem muita instrução (assim como vcs mesmos), que lhes garantisse certa superioridade que não existe. Não existe pessoa melhor que pessoa. Há ideias que possam ser melhores que outras.Empatia é uma palavra perdida no dicionário. Em desuso na vida que temos como sociedade. Para pratica la é preciso conviver. Necessita sair da sua bolha.Se uma pessoa é pobre a culpa será sempre dela, do ponto de vista cego dos apedeutas. Desisto de um diálogo coerente num lugar onde a concatenação é inexistente. Deixo a vcs o selo de qualidade de suas argumentações.

quarta-feira, 17 de dezembro de 2014

As manhãs chuvosas

As manhãs chuvosas sempre foram minhas favoritas. São reminiscências de uma memória antiga, maltrapilha. São vestígios de uma idiossincrasia imersa num torpor de falta de sono, de uma apnéia no surrealismo de uma vida ébria. O murmúrio lúgubre nas goteiras, o dia vestindo sua roupagem cinza como de luto observasse as pessoas absortas, cada qual com suas preocupações, cada um com sua dor particular, em nada, como o individuo gosta e se faz acreditar, peculiar. Circulam indo e vindo como seres autômatos que são, presumindo se donos do próprio destino. Dirigem se para a monotonia do lugar comum, continuam o ciclo vicioso de suas vidas frívolas. Acordei com o tamborilar dos pingos na janela. Não tinha noção das horas. O tempo, essa abstração inexpugnável que a tudo assiste. Vê o caminhar do homem com seu orgulho altivo, este imaginando se criatura divina de uma humana comédia entre bestas feras. O tempo, letárgico sorri. Com seus dentes amarelos e pútridos, sedentos das horas dos homens como vampiros boquissescos, como o demônio sorrateiro espreita numa fresta. A tristeza me apetece. A felicidade veja bem, é uma invenção insidiosa. Posto dessa forma é possível se deleitar com a brevidade da vida e quiçá então, eu sobreviva ao meu destino. O despautério reside nessa busca incessante por um estado de espírito de alegria interminável. É possível que um estado de graça incomensurável lhe sugue a melancolia e lance o numa inércia absoluta? Isso ecoa como blasfêmia nos ouvidos alheios, preocupados como estão em sua minuciosa procura doentia por algo que não se conhece além de sua nomenclatura. Fazer do corpo uma cidade eternamente feliz. Compulsória como de certo é nos dias de hoje, o mantém num estado de entorpecimento, aprisiona lhe o espírito num casulo onde reina o cotidiano enfadonho. Tantos livros nas prateleiras das livrarias com inúmeros títulos diferentes tendo o único objetivo prático de lhe reservar um embuste. E os autores enchem o rabo de dinheiro. Feliz cidade. Quando eu era criança lembro-me de ter um cachorro. Meu pai, crescido nas lavouras do interior e aprendiz do meu avô em matéria de patriarcado, ambas as criaturas inveteradas no machismo não eram muito dados ao afeto, para nossa estranheza havia adotado aquele animal numa dessas lojas que vendem bichos como se fossem de pelúcia, mas vivos. Adotou porque o cachorro não possuía pedigree. Não é de boa raça, disse o funcionário estrábico, nosso vizinho. Caso contrário, poriam nele uma etiqueta com preço e falariam sobre seus descendentes e todos os prêmios e honrarias recebidas pela linhagem dos quais nenhum cachorro, baseando se no que sabemos do raciocínio de tal animal, se vangloria. Adônis. Deu se o nome logo se viu as fuças do filhote. Batizou a minha mãe, mulher altiva, de olhos azuis e cabelos cacheados a lhe cobrir os ombros, amante da filosofia e professora de história numa escola publica. Contrastes gritantes de caráter, meu pai e ela não poderiam ser mais antagônicos. Estranho desígnio a união desses dois. Uma mulher sem paciência, no entanto. Irritava-se com as minhas insistências de que o pobre animal vinha a ter conversas comigo. Confessional, o bicho dizia-me assuntos que eu nunca pensaria por mim mesmo. Que saberia eu daquelas coisas? Não, quem contou me foi o cão. Não o diabo. Pois esse também é nome que se dá ao demônio. Cão. Aliás, li certa vez que ele tem 117 alcunhas. Rabo de seta, Cramunhão, Coisa Ruim, Capiroto, Tinhoso, Tranca Rua e por ai vai. Nem nome nem existência. Tudo não passa de uma invenção humana. Bode expiatório de nossas atrocidades. Culpar o outro por aquilo que está em nós é apanágio da espécie humana. Na bíblia diz se que usavam dois bodes, um para o sacrifício outro o expiatório. Este ultimo era tocado na cabeça por um sacerdote, que confessava todos os pecados israelitas e assim os enviava pra o deserto. Para que tempos depois voltasse a se pecar novamente. E assim se sucede nos dias de hoje, todavia o animal já é outro. E existem aqueles que são mandados para o deserto da pobreza, da miséria, essa desgraça em que caíram porque nela foram jogados, e os que são sacrificados na prisão de seus empregos. Eu vivo a ambivalência da liberdade e da condenação. A de ter nascido demasiado humano.

terça-feira, 16 de dezembro de 2014

Meu vizinho, o senhor Jargão

Todos os dias religiosamente às nove da manhã, senhor Jargão descia a Rua das Bromélias no seu passo coxo, arrastando o chinelo Havaianas de tiras fixadas por tachinhas, as pernas fatigantes de quem viveu demasiado em pé sob o sol escaldante da vida difícil na roça. Saudava roufenho as vizinhas mexeriqueiras que se encontravam matinalmente perante a casa de dona Alzira. Três senhoras septuagenárias portando a frente de seus corpos vassouras (como quem tem diante de si pedestais e microfones numa opereta da alcovitagem), ele sempre com um jargão enigmático aos ouvidos desatentos que dele, e quiçá da malandragem cotidiana nada compreendiam. Porém, no fim das contas tinham todos um significado intrínseco. -“Bom dia! Hoje a bruxa ta solta.” E seguia. Cambaleante. A montar a vida que via como quem monta um quebra cabeça. A entender e se relacionar com o mundo usando as peças que conhecia. Os jargões. Encarquilhado, os passos vagarosos de quem leva na coluna uma vírgula, entrava no bar do Benedito a bradar: - “Oooopa cabocro! Mas será o Benedito? – e ria de sua própria graça, antes rir da troça do que chorar a desgraça. -“ Vamu devagar com o andor, que o santo é de barro! Me da uma dose daquela’gua que passarinho num bebe!” Depois da terceira dose de água ardente, arrotando um sopro quente de estomago aziago, espremia seus olhos embotados, uma mistura tragicômica de senilidade viril e cachaça mineira lhe turvando as vistas. E rindo de si mesmo atabalhoado proferia: - “Essas véia tudo tem olhar de secar pimenteira. E te digo mais. Quem com porco se mistura farelo come!” Tirava do bolso da bermuda marrom andrajosa, sua preferida entre duas únicas peças que possuía, uma bolsinha de moedas feita de pano xadrez, presente modesto dado por uma amiga do bingo. - “A cavalo dado não se olham os dentes!” dizia ele de olhos fechados, entre pausas do seu refluxo gastroesofágico. Pagava o bom moço, adjetivo dado ao tal caboclo por conhecer lhe bem o caráter, e saia porta afora. Subia a escorar nos portões das casas, um sorriso sem dentes de quem já não liga o abandono da dentadura e quiçá festeja o abraçar da gengiva nua, cantarolando a canção do Adoniran Barbosa: “O Arnesto nos convidou pra um samba, ele mora no Brás, Nós fumos, não encontremos ninguém, Nós voltermos com uma baita de uma reiva, Da outra vez, nós num vai mais, Nós não semos tatu!” E entre um silêncio e outro no meio da letra, depois de uma introspecção fugaz, gargalhava e dizia: -“Pau que nasce torto nunca se endireita!” E ria que se mijava.