terça-feira, 28 de abril de 2009

When the day is through


Escolhi viver da forma como me convém. Isolar me das ideias todas que açoitam a carne.
Da perniciosa ambição que assola o mundo. Egocentrismo dos que tentam impor a mim uma realidade que é o inverso de tudo que sonhei.
Prescindi da beleza que se esvai na mão algoz do tempo. Da falsa noção de imortalidade que é ser mãe. Renunciei a falacia das juras de amor. Carcere do espirito.
Mulheres tristes resignadas com sua condição funesta. Objeto de cobiça e pompa.
Quero respirar a brisa marinha num entardecer tranquilo de outono. Ver o ceu tingir-se de purpura numa tarde estival. Ter a felicidade atrelada a alma porque é ela pura simplicidade. Constitui-se de tudo que não é apego.
Caminho pela orla atenta a respiração do mundo. Arquejar presente nas ondas. Uma imensidão de agua com seus misterios submersos sendo ele mesmo um outro universo.
Sentam-se no cais os casais apaixonados. Contemplam a vastidão que se limita aos olhos no horizonte.
Recordo-me a canção. É doce morrer no mar.


"Take your time now
Feel like standing still
Get your baerings
Until

When the day is through
All you got to do is slowdown
When the day is through
All you got to do is slowdown..."

(Morcheeba - slowdown)

terça-feira, 7 de abril de 2009


"Os homens não amam aquilo que cuidam que amam. Por quê? Ou porque o que amam não é o que cuidam; ou porque amam o que verdadeiramente não há. Quem estima vidros, cuidando que são diamantes, diamantes estima e não vidros; quem ama defeitos, cuidando que são perfeições, perfeições ama, e não defeitos. Cuidais que amais diamantes de firmeza, e amais vidros de fragilidade: cuidais que amais perfeições Angélicas, e amais imperfeições humanas. Logo os homens não amam o que cuidam que amam. Donde também se segue, que amam o que verdadeiramente não há; porque amam as coisas, não como são, senão como as imaginam, e o que se imagina, e não é, não o há no mundo."

Padre António Vieira, in "Sermões"

segunda-feira, 6 de abril de 2009

To find a queen without a king


O ponto é o final do dito. Ponto. Restou-me o silêncio que amarga as entranhas. Esperei a voz suave que me encantava com sua melodia inaudita. Libertava-me das sensações frivolas de um cotidiano caustico. Esperei horas. Esperei dias, meses e anos. Mas a voz calou-se depois do ponto. Pra sufocar na ternura angelical de si mesma.
Morreu entre o dito e o não dito.
Sentei na orla da praia a observar o quebrar de ondas. Concentrei-me em deixar os pensamentos numa dança desvairada. Brisa suave no rosto escanhoado. Atenção concentrada torna-se a prisão das ideias livres. Fecho os olhos e respiro profunda e pausadamente.
Sorriso timido a desabrochar no cheiro vago de uma lembrança.
Tudo o que resta do amor que um dia houve repousa sobre a escrivaninha. Uma turva foto sua em preto e branco.

"Spent my days with a woman unkind,
Smoked my stuff and drank all my wine.
Made up my mind to make a new start,
Going To California with an aching in my heart.
Someone told me there's a girl out there
with love in her eyes and flowers in her hair.
Took my chances on a big jet plane,
never let them tell you that they're all the same.
The sea was red and the sky was grey,
wondered how tomorrow could ever follow today.
The mountains and the canyons started to tremble and shake
as the children of the sun began to awake..."

(Led Zepellin - going to California)