terça-feira, 5 de março de 2013

do começo do odio

Nós vivemos nessa frenesi, obcecados com uma perfeição onirica de existência urbanoide, tolos imersos num torpor que é a incessante busca por algo intangivel. Obviamente, como é tipico da raça e de nossa epopeia sobre o planeta (e que inclusive confirma se num livro famoso da nossa historia infame de odio) demos nome a isso. Sim, somos otimos em dar nomes, em criar sub grupos, em rotular e por etiquetas. Um nome constituido de dez letras mas com uma variedade de vulgos. Vulgo ha que se explanar, vem de classe popular; a plebe; o povo. A felicidade definitivamente não é vulgar. Carros,celulares,computadores, roupas, brinquedos,casas. Um acumulo desnecessário de coisas materiais, essa apregoada busca pela felicidade. Tudo se resume a substantivos. Que assim como a classificação gramatica nos diz, é primitivo, precede a razão, derivado da irracionalidade, simples desejo ignobil, composto da mais nova inutilidade do mercado. Eu particularmente prefiro os adjetivos. Arrivista,indolente,perdulário. Conheço uma infinidade de improperios disfarçados. Ah mas vocês presunçosos materialistas amam dar a si mesmos qualidades que não tem. Superlativo relativo de superioridade. Somos excelentes matematicos da exclusão. Aprendemos somar, multiplicar (a nosso favor) e subtrair (dos outros), conquanto a divisão ainda nos é um problema. Um problema matematico da equação social. Todos os dias pela manhã - e quando digo todos quantidade é um luxo que não possuo - ao acordar com o barulho infernal dos carros na avenida, deitada sob a marquise com o halito amargo de uma ressaca que ha muito tempo me abate, tinha o habito de me perguntar : como irei sobreviver mais um dia sem subserviência? Eu, mulher, subjugada no servilismo do trabalho domestico não remunerado, aviltada pelo legado da dependência , educada para a procriação ainda na infância em meio a bonecas de bebes e eletro domesticos de plastico, um simulacro da realidade porvir. Sempre atestei preferivel ser puta. Mas não. Meu corpo me pertence. Não é propriedade de meu pai, mesmo herdando seu sobrenome. Nem sera de um marido, ao me tornar usufruto num cerimonial lugubre de posse, menos esta a preço por venda de favores. Aprendi como os seres abjetos dos bueiros a viver da escória que a sociedade produz, a tirar proveito do que é descarte. A sociedade da reciclagem do lixo, não recicla suas próprias premissas. Temos muito em comum com as baratas. Teria sido essa a razão que levou Franz Kafka a escrever A metamorfose? Nós os excluidos, os zeros econômicos somos todos Gregor Samsa. E os algarismos outros, os mais do que zero nunca acima de um, que ainda não sofreram tal metamorfose tem um tremendo potencial pra acordarem atônitos. Estamos presente. Meio a arquitetura de ferro retorcido e concreto somos andrajo, visualmente deteriorando a imagem de cidade promissora. Dormimos embaixo de pontes, terrenos abandonados, habitamos a propriedade que nos é oferecida, a rua. Não invadimos residências ou restaurantes em busca de alimentos, nós pedimos (e muitas das vezes ganhamos, aqui eufemismo, restos de comida). Em 2010 eramos 13 mil. Oval e achatado?? Não creio, mas somos sim na maioria de cor escura.De estados ermos, esquecidos na concentração de piores cidades do Brasil. Li que o contato com as fezes de barata pode ocasionar reações alérgicas em algumas pessoas. E indubitavelmente, por certa analogia o simples contato visual conosco causa repulsa. Quanta verossimilhança com esse ser abjeto, vil, malquisto nas residências de asseio, tedio e apatia. Simios são nossos parentes, baratas são nossa alma gêmea.