quarta-feira, 22 de outubro de 2008

Insônia


Quando acordo estremeço. Se esvai a realidade translucida de um sonho vivido de externas imagens sucessivas.O mistério subjacente de um momento embutido nas horas.Assim fugaz, diminuto.Um jazigo de homens inconsolaveis com seu remorso na forma de existirem.Estão todos presos.Recubitos na sombra que pesa sobre eles.
Acendo minhas velas e em pensamento faço uma prece.Cercada por paredes finas que dividem vidas vazias.É imprescindível pra mim que haja um alivio.Falsa cegueira amiúde se abate sobre mim.
A monótona inquietação de vestir-me de luto.Sobriedade da cor na palidez de um corpo esguio.Esgueira-se uma náusea de nada saber.
Tão mais calmo longe de todas as desesperanças.Observo a miríade de apartamentos a minha frente, nessa fauna insólita que vive sob a fatalidade do tempo.
Uma turbulência antecipada de todos os prazeres.
Tenho em mim um grito sufocado pela ausência de lágrimas.
Ouço as batidas rapidas da musica a ribombar pelos cômodos,suas camadas sonoras na superficie da voz lamuriante a criar em mim impulsos que se contradizem.
Antagonismo das sensações a correr na seiva que aos órgãos inunda.

Time
is running out for us
But you just move the hands upon the clock
You throw coins in the wishing well
For us
You just move your hands upon the wall

Um arder de alma numa tarde fria de sábado.Angustia no hálito de morte, vertigem claustrofóbica de febre.Ah, essa catarse pudica na insignificância que represento para o universo.
Me agarro trêmula ao parapeito da janela.Sento-me ali de costas para toda a corja de figuras lúgubres enclausuradas.Não haverá acenar de uma despedida triste.
Penso no esforço quotidiano desse usar de mascaras.Quanto esforço na tentativa de me encaixar.
É preciso saber onde buscar lagrimas.

It comes to you begging you to stop
Wake up

Minha insonia sera apenas uma lembrança vaga desse desassossego que sempre me doeu.

But you just move your hands upon the clock
Throw coins in the wishing well
For us

Sinto algo em mim a convulsionar,uma irrespirável sensação que me entranha.Êxtase num gesto que nada tem de obsceno.O fardo desejo inverossimil de ser outro, essa imagem oculta na ilusão de liberdade.Um sussurrar que invade meu domínio.Deito-me na queda a sentir um efluvio irascivel de flores.Realidade surda de uma serenidade tardia.
A vida lentamente substitui-se, o olhar estupefato num céu pardacento.Gosto ferruginoso a me engolfar nos labios.Uma ultima respiração entrecortada.
Multidão que se aglomera frenetica com sua curiosidade mórbida pelo fatidico.

No apartamento distante a voz sublime ecoa :

You make believe that you are still in charge




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