sábado, 22 de novembro de 2008

Criando um monstro

Recebo muitos emails de amigos com textos em nome do Arnaldo Jabor.Sinceramente,não sei se são todos escritos por ele mesmo.Muita gente gosta do que ele escreve e não sou diferente.Sendo do meu desconhecimento e ignorância a respeito da origem,publico como me foi mandado :


O que leva um rapaz de 22 anos a estragar a própria vida e a vida de outras duas jovens por... Nada?
Será que é índole?
Talvez, a mídia?
A influência da televisão?
A situação social da violência?
Traumas? Raiva contida?
Deficiência social ou mental?
Permissividade da sociedade?

O que faz alguém achar que pode comprar armas de fogo, entrar na casa de uma família, fazer reféns, assustar e desalojar vizinhos, ocupar a polícia por mais de 100 horas e atirar em duas pessoas inocentes?
O rapaz deu a resposta:
'ela não quis falar comigo'.
A garota disse não, não quero mais falar com você.
E o garoto, dizendo que a amava, não aceitou um não.
Seu desejo idiota era mais importante.
Não quero ser mais um desses psicólogos de araque que infestam os programas vespertinos de televisão, que explicam tudo de maneira muito simplista e falam descontextualizadamente sobre a vida dos outros sem serem chamados.
Mas ontem, enquanto não conseguia dormir pensando nesse absurdo todo, pensei que o não da menina Eloá foi o único.

Faltaram muitos outros nãos nessa história toda.
Faltou um pai e uma mãe dizerem que a filha de 12 anos NÃO podia namorar um rapaz de 19.
Faltou uma outra mãe e pai dizer que NÃO iria sucumbir ao medo e ir lá tirar o filho do tal apartamento, talvez até a puxões de orelha como a moda antiga.
Faltou outros pais dizerem que NÃO iriam atender ao pedido de um policial maluco de deixar a filha voltar para o cativeiro de onde, com sorte, já tinha escapado com vida.
Faltou a polícia dizer NÃO ao próprio planejamento errôneo de mandar a garota de volta pra lá.
Faltou o governo dizer NÃO ao sensacionalismo da imprensa em torno do caso, que permitiu que o tal sequestrador conversasse e chorasse compulsivamente em todos os programas de TV que o procuraram.

É, simples assim: bastava um NÃO.
Pelo jeito, a única que disse não nessa história, foi punida com uma bala na cabeça.
O mundo está carente de Nãos.
Vejo que cada vez mais os pais e professores morrem de medo de dizer não às crianças.
Mulheres ainda têm medo de dizer não aos seus maridos (e alguns maridos, temem dizer não às esposas).
Pessoas têm medo de dizer não aos amigos.
Noras que não conseguem dizer não às sogras, chefes que não dizem não aos subordinados, gente que não consegue dizer não aos próprios desejos.

E assim, são criados alguns monstros...
Talvez alguns não cheguem a sequestrar pessoas.
Mas terão pequenos surtos quando escutarem um não, seja do guarda de trânsito, do chefe, do professor, da namorada, do gerente do banco...
Essas pessoas acabam crendo que abusar é normal.
E que é legal.
Os pais dizem: 'não posso traumatizar meu filho'.
E, não é raro ver alguns já tomando tapas de bebês com 1 ou 2 anos de idade.
Outros, gastam o que não têm em brinquedos todos os dias e em festas de aniversário faraônicas para suas crias.

Sem falar nos adolescentes.
Hoje em dia, é difícil ouvir alguém dizer:
Não, você não pode bater no seu amiguinho.
Não, você não vai assistir a uma novela feita para adultos.
Não, você não vai fumar maconha enquanto for contra a lei. Não, você não vai passar a madrugada na rua.
Não, você não vai dirigir sem carteira de habilitação.
Não, você não vai beber uma cervejinha enquanto não fizer 18 anos.
Não, essas pessoas não são companhias pra você.
Não, hoje você não vai ganhar brinquedo ou comer salgadinho e chocolate.
Não, aqui não é lugar para você ficar.
Não, você não vai faltar na escola sem estar doente.
Não, essa conversa não é pra você se meter.
Não, com isto você não vai brincar.
Não, hoje você está de castigo e não vai brincar no parque. Não, etc...

Crianças e adolescentes que crescem sem ouvir bons, justos e firmes NÃOS, crescem sem saber que o mundo onde vivem não é só deles.
E aí, no primeiro não que a vida dá (e a vida dá muitos) surtam de vez.
Usam drogas.
Compram armas.
Transam sem camisinha.
Batem em professores.
Furam o pneu do carro do chefe.
Chutam mendigos e prostitutas na rua.
E daí por diante...

Não estou defendendo a volta da educação rígida e sem diálogo, pelo contrário...
Acredito piamente que crianças e adolescentes tratados com um amor real, sem culpa, tranquilo e livre, conseguirão entender perfeitamente uma sanção do pai ou da mãe, um tapa, um castigo, um NÃO.
Intuem que o amor dos adultos pelas crianças não é só prazer - é também responsabilidade.

E com certeza:
'quem ouve uns Nãos de vez em quando, também aprende a dizê-los quando é preciso'.
Acaba aprendendo que é importante dizer não com respeito e firmeza, mesmo que sejam pessoas que nos amem.
O 'NÃO' protege, ensina e prepara as pessoas.
Por mais que seja difícil, eu tento dizer não aos seres humanos que cruzam o meu caminho, quando acredito que é hora - e tento respeitar também os nãos que recebo.
Nem sempre consigo, mas tento...
Acredito que é por aí que está a verdadeira prova de amor e da responsabilidade social.
E, é também por aí, que estará o começo para a solução da violência e da insegurança, cada vez mais desmedida e absurda dos nossos dias.

Penso nisso:
A vida deve ser bela e que não pode ter monstros...


Arnaldo Jabor

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