quarta-feira, 17 de março de 2010

Foje mi sentas ke mi ne ankoraŭ spertis veran amon


O estranho atravessou a rua sentindo o vento gelido no rosto pálido escanhoado. Caminhava ofegante,labios ressequidos camuflando dentes tortos e cobertos pela ferrugem anciã de alimentos,de quem desconhece,por pobreza ou por falta de acuidade,quiçá ambas,as noções sumárias da higiene pessoal.Promessas de beijos jamais cumpridas.Fantasia-se romances dentro de um cerebro de imaginação limitrofe.
A desconhecer o afã apaixonado dos abraços numa noite melancolica de outono.
Os pés,exangues e oprimidos num sapato andrajo que outrora serviu alguem de muito menos fortuna.Formigantes pés de quem leva consigo um frio que lhe vem do âmago.
Sombra arqueada pelas dores que os anos acumulavam.Era o peso das desilusões todas de jamais ter sido nada que um senão.
As juntas lhe são uma penitência merecida pela covardia de viver como um fantasma perdido num labirinto dentro de si mesmo. Um ecoar infinito dos urros que lhe afloram o espirito. A morrer no deserto das percepções.
Mãos cadavericas unidas contra o peito como numa prece. A reza é um opiáceo.Congregações de viciados num domingo enlutado curvam se em lastimas perante estatuas que serão eternamente surdas.
O estranho pigarreia e para. Silêncio sob a lua.Incerteza adornando a iminência do ato.
A luz amarelado funesto dos lampiões a gás a atrair insetos.
Olha para o céu de nuvens grandes e esparsas no vasto descampado de estrelas rutilantes.
Lagrima extemporânea a escorrer cheia de arroubo.
Furta a calidez da noite com os olhos embotados,no seu trotar coxo de passos desajeitados sobre paralepipedos íngremes da rua imersa no seu sono da madrugada.
Aperta os passos numa ânsia e estremecimento que é o saber prognostico do corpo e da alma.Se aproxima o fatidico livrar-se do mundo interior em ruinas.
No parapeito do rio o fraquejar das pernas.Um ultimo dizer sufocado pela emoção sincera de jamais sentir saudades.
"- O que ha de romântico em nascer e morrer e nesse breve espaço de tempo viver a historia,minha e do mundo,escrita por mãos trêmulas num sossego de dia chuvoso?
Sinto as asas elegantes a rasgar-me a carne e ser ela somente em espirito."
Não ha despedidas. So o alivio e o gozo na invasão das aguas a lhe roubar o ultimo suspiro.

*(Às vezes sinto que ainda não experimentei um amor verdadeiro.)


"a storm at sea, bow cracked and I was capsizing.
i sunk below where I swore I would never go.
if you can't stand in place,
you can't tell who's walking away
from who remains... who stays, who stays, who stays...

there are no tears, just pity and fear.
the vast ravine right in between."

(Death Cabie for Cutie - Pity and Fear)

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